sábado, 16 de dezembro de 2006

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Encontrando Varginha

Aos poucos vou escrevendo dos grandes momentos do candomblé na minha vida.
Queria criar um pouco de mistério até chegar no meu encontro com o Babalorixá José Carlos de Ibualamo, más aqui vai:
Começou quando li uma matéria dele no jornal que ele fazia na época (Nossa Voz). Confesso que o que chamou minha atenção foi a fato de que a roça estava localizada em Santo Amaro (finalmente um candomblé civilizado, num lugar central)
Quando liguei e falei com ele foi me passado que tinha que pegar a av. Antonio Villela (Parelheiros) até Varginha. Estranhei, já que achei que era em Santo Amaro. Quando falei que era mais longe que imaginava Zé Carlos protestou: "É pertinho, é rápido." Ainda não sabia mas existem 'formulas' para calcular este tipo de coisa. Por exemplo, 'pertinho' significa que se vc estiver dentro de um carro botando a conversa em dia com o Babalorixá Zé Carlos, a distancia passa rapidinho. 30 km parecem 3 km. Vc nem percebe. Mas se vc estiver sozinho no carro, indo para o Ile Varginha pela primeira vez sem a companhia do Zé Carlos, é longe pra caramba. Até hoje todo mundo reclama da distancia da casa. Todo mundo fala a mesma coisa, "Nossa adorei o Zé Carlos, mas, nossa! Que longe, né?"
É longe pra burro, e pra quem dirige Gol 1000, mais ainda. Esta coisa de pai-de-santo medir distancia não da. Babalorixá, pai-de-santo, zelador, etc... estas pessoas deviam ser proibidas de falar em termos de distancia, e de tempo também: Tipo, se vc estiver esperando para ser atendido por um pai-de-santo e alguem sai e diz que ele vai te atender em 5 minutos bota uma hora e meia nisso, e olha lá. Eu mesmo já tenho uma fórmula. Tempo de axé é equivalente a tempo normal + 1h30. Candomblé vai começar as 8. Chegue lá 9 e meia que o pessoal já esta pensando em se vestir para começar.
(Tempo e distancia, combinados, são uma dupla explosiva, especialmente na Bahia. Certa vez liguei para falar com Pai Ari, do Pilão de Prata, descendente da família Bangboxe, e ele não so garantiu que a casa dele era perto de onde eu estava, quanto me garantiu que estava aberto à possibilidade de me deixar fotografar a casa. Eu cheguei lá depois de não sei quantos ónibus errados, subi a longa ladeira até a casa dele, completamente ensopado (era Janeiro) e fui, eventualmente, depois de um bom tempo, muito bem recepcionado. Me mostrou o quarto de Oxalá, atrás do barracão, que fez por confiar em mim, e por ser uma pessoa aberta. Claramente é uma pessoa muito capaz e intelligente. Jamais vou esquecer o quarto - com pé direito lá nas alturas.
Até ai tudo bem. Infelizmente, ele me informou que não podia tirar fotos aquele dia. Perguntei por que? (uma vez só: geralmente este tipo de pergunta se faz uma vez só) Recebi aquele olhar do tipo: não vou te responder.
Lembrei da visita que o Pierre Verger fez para Londres, onde ele disse que ele nunca abria a boca no candomblé, simplesmente esperava as pessoas contarem as coisas para ele. Jamais teria o Pierre questionado uma decisão daquelas que o Pai Ari tinha me passado. Que cagada minha. Mas eu sou meio assim. Expliquei que não viajava com dinheiro público, de pesquisa de uma CNPq da vida, não tinha o luxo de poder voltar e tal. Pai Ari não estava nem ai: não é que o povo-de-santo sacrifica tudo, tempo, dinheiro para visitar um irmão de santo - paulistas nem piscam quando chega a hora de ir visitar o Tio Linô lá no Rio, ou o Baiano lá no parque fluminense. Então o que adianta o gringinho travestido de fotografo querer reclamar de seus sacrifícios.
"Vc pode voltar amanha e tirar três fotos."
E foi isso: tempo e distancia. Tive que voltar o dia seguinte, esperar tudo de novo e não é que foram 3 fotos mesmo, nem uma a mais. Uma do barracão, uma do museu, e outra da entrada.)
Voltando ao Axé Varginha: peguei a rua que vai até Varginha e me perdi totalmente. Não carrego celular (até hoje) e a coisa foi piorando até virar aquele pesadelo total. Num momento estava tão confuso com tudo que cortei um cara que não aguentou mais, saiu do carro, sacou um revolver e apontou na minha direção. Eu estava tão atrapalhado que estava, naquele instante, dando ré. Uma ré muito bem dada por sinal por que logo sai da vista dele, e ele da minha. Depois de duas horas dessa brincadeira cheguei na casa da Egbomi Elsa, pensando que tinha chegado, e alguém indicou o caminho até o Axé Varginha.
Entrei lá e o cachorrinho do Zé Carlos, um cocker spaniel meio bege, anunciou minha chegada. Não lembro bem mas acho que o Zé Carlos estava usando um chapéu meio cowboy, meio fora-da-lei, e mexendo inocentemente um ebó com o dedo.
Z-C:"Oi. Que rápido."
ROD: "Bem......deixa para lá."
(to be continued...............)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

10 anos de Batistini

Começou assim: menino sardento, introvertido entra em loja de umbanda no largo da batata e compra um livro que tem na capa um rostro de uma negra, de cabeça raspada, coberta de pontos brancos (feitas com argila branca/efun - coisa que nos meus quadros costumo chamar de ‘bolinhas energéticas’) e compra uma coisa pequena com pedacinho de madeira e arco e flecha, na qual esta costurado ‘oxossi’. (Era um Patuá: Amuleto que se leva pendurado ao pescoço ou pregado na roupa. Antigamente eram saquinhos de couro ou de pano, com boca amarrada com cordão metálico, junto a uma conta de vidro da cor da divindade protetora. Atualmente são de forma quadrada ou retangular, em couro natural ou sintético, mas cores rituais, contendo Figas de Guiné, Búzio, Estrela de Salomão, etc; ou pedaços de ervas as vezes orações. PA =erradicar doenças, antídoto, TU = propiciar, WA = viver, existir (viver, sem doenças).) O ano é 1983, e o rapaz tem 13 anos, e já esqueceu seu português depois de alguns anos morando nos EUA e frequentando uma escola interna na Inglaterra. Seus pais acabaram de voltar para São Paulo, e nunca entrou em loja de umbanda antes: fica deslumbrado com o cheiro das ervas, os Exus sorridentes e as pombagiras dancantes cobertas de poluição e pó nas prateleiras da tendinha. Anos mais tarde, em 1999, compraria as coisas para minha feitura no Ilê Alaketu Axé Ibualamo com Babalorixá Zé Carlos de Ibualamo na mesma loja (http://www.ilealaketuaseibualamo.hpg.ig.com.br ). Este livro me acompanhou durante anos, mas nunca consegui entender sequer uma palavra dele.

Dai teve vários episódios que posso relatar em outra ocasião, até chegar a 1995, quando, de novo, voltei para o Brazil, depois de anos morando em Londres e Boston. Vasculhei os corredores da USP atrás de aulas sobre candomblé. Não tinha. Por coincidencia um tal de Prof. Prandi, que nem conhecia na época, apareceu e falou que eu tinha que começar pelo Pai Doda. Assunto para outro post. Ficava muito frustrado na época porque ninguém colocava fotos de candomblé em livros. Lia e lia sobre a religião e reclamava de duas coisas: não tem livro sobre mitologia, e não tem livro com foto de orixá. Estava querendo fazer uma série de pinturas sobre os mitos de candomblé e portanto estava meio paralisado. Depois de 4 festas no Pai Doda vi que por mais que estava aprendendo sobre as festas de candomblé, não estava aprendendo muito sobre os segredos e fundamentos. Pai Doda era uma pessoa extremamente carismatica, com senso de humor afiadíssimo, e tinha um jogo de búzios que poucos conseguem igualar. Também sabia conquistar as pessoas privilegiadas. Más para mim nem dava uma entrevista para o documentário que fazia sobre a casa dele. Eu também nem sabia o que ia perguntar, já que ainda não entendia muito bem porque orixá não falava.

As vezes coisas acontecem na vida que mudam o nosso rumo para sempre. Isso aconteceu em junho de 1996 (ou era 1997?). Guido de Oxaguiã e Jairo de Ogum, amigos (meio marias gasolina) nestas primeiras excursões noturnas para a casa de Mãe Ana de Ogum, Francisco de Oxum, Pai Eduardo de Cambuci, e tantos outros lugares, me levaram para uma casa que imediatamente se encaixou no meu coração: Ilê Alaketu Axé Airá. Chamado de Axé Batistini pelo pessoal que frequenta a casa, o templo celebra todo ano a festa de seu capitão-mor, o rei do axé de São Paulo, Pai Pércio de Xangô. Cheguei nesta noite e vi Pai Pércio estender sua mão com todo o carinho e delicadeza do mundo, para a Mãe Bida de Iemanjá, que na época era uma senhora frágil (até chegar a vez do toque para Iemanjá) de quase 90 anos. Ela se levantou e todos os omo orixá se ajoelharam. Podia ter sido o Teatro Municipal: as filhas de santo formaram o corpo de bailarinas, Pai Pércio o Rudolf Nureyev e Mãe Bida a Margot Fonteyn. (Nureyev e Fonteyn formaram o casal mais famoso na historia do balé) . Tem uma foto na parede da casa – que eu tirei, claro – que recorda o momento. Já são dez anos de Batistini na minha vida, anos que merecem ser lembrados com novos posts….

Exu em "Sortilégio"

Exu em 'Sortilégio'
É de praxe abrir um blog com uma homenagem a Exu. Nunca vi a peça Sortilégio, de Abdias Nascimento, mas ela conta a historia de:
Emanuel, um negro desesperado que acaba se auto-sacrificando para Exu.
Margarida, mulher branca casada com Emanuel que ele na verdade despreza.
Efigênia, mulher negra, a verdadeira paixão de Emanuel.
A autora Elisa Larkin Nascimento, que acaba de fazer a curadoria da exposição itinerante de 90 anos de vida (com patrocinio do IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros) do escritor, ator, pintor, e ex-senador carioca Abdias Nascimento, fez esta análise da peça:

Emanuel, em sua identidade como simulacro de branco, rejeita Efigênia, seu verdadeiro amor, em favor de Margarida, mulher branca que recorre ao casamento com Emanuel para «tapar um buraco», na expressão da Filha de Santo III: é que a virgindade perdida a deixa «acessível» ao casamento, até com um negro, para salvar a honra.
Assim, todavia, Margarida tem a sua honra protegida. À mulher negra essa protecção é negada. Confiando na lei que «protege as menores de dezoito», Emanuel tenta defender Efigênia perante a polícia invocando sua condição de menor seduzida por um homem branco. «Acabe logo com esses fricotes, vagabunda!» é a resposta da autoridade. Para Efigênia, «A eterna amargura da cor. Compreendi que a lei não está ao lado da virgindade negra.» Emanuel, por sua vez, é agredido pelo delegado aos gritos de «Meta o doutor africano no xadrez!» (Nascimento, 1959, p. 45).

A questão da virgindade, fundamental para a mulher na sociedade patriarcal da época, funciona de forma distinta para as duas mulheres: MARGARIDA: (...) Nunca imaginei que os homens fizessem questão de coisa tão sem importância... EFIGÊNIA: Sem importância para você. Eu, desde o instante em que perdi minha «importância» tive meu caminho traçado: o caminho da perdição. Não houve escolha. (p. 64.)
O estereótipo se confirma, entretanto, como obra da própria discriminação. Efigênia, já sem «importância» e sem escolha, tenta com a ajuda de Emanuel criar uma carreira artística, mas cai logo nessa armadilha:

EFIGÊNIA: Eu tinha dezessete anos e te amava, gostava de ti como jamais gostei de nenhum outro homem. Mas precisava vencer. Do meu talento não queriam saber. Só do meu corpo. Fiz dêle minha arma. (...) Usei meu corpo como se usa uma chave. (...) Os brancos têm o privilégio: sem eles, nada feito. (p. 48, 49, 62.)

Margarida, por sua vez, satisfaz a curiosidade originada no estereótipo da virilidade do homem negro e logo se cansa de Emanuel, cuja solidão cresce ao descobrir que Margarida abortara o filho, com medo de este nascer negro.
Provocado ainda pelas tramas de Efigênia, cujo ódio a Margarida é função não apenas do ciúme amoroso como também da injustiça racial, Emanuel acaba matando Margarida e por isso está fugindo da polícia. Sua última fala, ao aceitar o sacrifício ritual, é proferida com calma e decisão: «Eu matei Margarida. Sou um negro livre» (p. 79).

Se Sortilégio oferece uma solução simbólica e mítico-espiritual para Emanuel, para Efigênia o que se concretiza é o destino decretado pela sociedade dominante, porém com o aval das forças cósmicas. Ela é entregue à Pomba-Gira, deusa do ato sexual:
EFIGÊNIA: Satisfazendo meus desejos, meus caprichos (mordaz) estou conquistando eu espaço, cavalgando a minha lua, como diz você. (...) Aos poucos minha carreira foi ficando de lado. Os vestidos elegantes, meu corpo, até meu nome, tudo perdeu o sentido. Só importava meu desejo de homens. (...) (mística) Eu cumpria uma ordem divina. Executava um ato litúrgico. (vulgar) Por isso deixei Copacabana. Mudei para a Lapa. (p. 47, 49-50.) Na macumba carioca, Pomba-Gira representa a contrapartida feminina de Exu.

Assim, ao invocar os Exus no final da peça, o último nome pronunciado é justamente o dela. Implicitamente, Efigênia está convocada, junto com o herói, para o sacrifício ritual que configura a saída do impasse. Entretanto, na sua versão original a peça não concretiza essa solução em cena, pois Efigênia some, sem assumir a sua parcela de responsabilidade na morte de Margarida e portanto sem se redimir, no instante anterior ao momento em que Emanuel realiza a sua transformação. Na última cena dos dois, Emanuel a esbofeteia e a chama de assassina, prostituta de corpo e alma. Efigênia, «impassível», acena à polícia com o lírio ensangüentado e desaparece.
Na segunda versão da peça, no momento do sacrifício de Emanuel, Efigênia «aparece e fica atrás de Emanuel; ela veste um traje ritual de Ogun». As Filhas de Santo anunciam: «Pronto: obrigação cumprida!», mas na nova versão a peça não acaba aí: Efigênia põe a coroa de Ogun na cabeça, e empunha a lança. O coro, as Filhas e a Iyalorixá saudam Ogunhiê! e se atiram de comprido ao chão, batendo a cabeça no solo em sinal de reverência e obediência. Seguem-se momentos de silêncio absoluto. Depois Efigénia levanta a espada num gesto enfático de comando gritando forte Ogunhiê! O ponto de Ogun se eleva e se transforma num ritmo triunfal e heróico.
A Iyalorixá saúda: «Axé para todos: para os mortos... os vivos... e os nãonascidos! Axé à vitória de nossa luta!» O coro responde repetidamente «Axé!...», e assim termina a peça: «Enquanto cantam e dançam o pano desce lentamente» (Nascimento, 1979: 139-140). Infundida do axé de Ogun, desafiador das fronteiras cósmicas (Soyinka, 1976), Efigênia passa de prostituta anónima a líder da comunidade, que se liberta em se conjunto com o sacrifício de Emanuel. A realização do destino simbólico do herói junta-se com o da heroína e se reintegra à matriz primordial, comunal, do drama ritual, emergindo livre da convenção ocidental da solidão do indivíduo diante de seu destino.

Em inglês, estão publicadas as duas versões de Sortilégio, em traduções de Peter Lowndes (primeira versão, editada pela Third World Press, de Chigaco, em 1976) e de Elisa Larkin Nascimento (na antologia Crosswinds, organizada por William Branch e editada pela Indiana University Press, 1993).

Babalorixás brazucas na TV

Passei um dia por mês, entre janeiro e setembro, na Igreja Internacional da Graça de Deus, do Soares (primo e ex-sócio do Macedo Bezerra), fazendo dublagem para o Inglês e ganhando uma micharia, já que demorava 1 hora pra chegar lá, uma para voltar, e só deixavam trabalhar 3 horas. Vc vai até ver no site deles do que se trata (http://www.ongrace.com) Ironicamante, ou não, todo mundo que trabalha na área de dublagem (fora os gringos) é da Congregação Cristã no Brasil (http://www.cacp.org.br/ccb.htm). Estão lá na expectativa de que o mesmo vai acontecer com eles que aconteceu com os sortudos que comecaram carriera na rede Record e agora estão fazendo novela e amizades com ex-artistas globais. Um fofoca interessante é que a Casas Bahia queria comprar espaço no programa do RRSoares, mas ele não vendeu por que ganha mais com doações que com um eventual acordo com a CB. Bem, foi o que me disseram.

Na verdade as pessoas que trabalham lá são muito legais, e o clima até que é bom. No começo fiquei na minha, mas logo percebi que os caras da Congregação são cristãos sérios, daqueles que pensam que cada pessoa é dono do próprio nariz e que a única pessoal responsável por sua vida é vc mesmo. Daí que não concordam plenamente com o conteúdo dos programas.

Pelo que vi, vontade e $$ não falta (falta só para os dubladores). Os seis programas produzidos pela rede são traduzidos e dublados em espanhol e inglês. É tudo meio improvisado, com mil e umas antenas de satelite espalhados pelo quintal da sede na marginal, e tem até tambor de torre de celular encostada nas salas de dublagem. (Falei pro pessoal lá que o tambor da torre de celular tem que ter recuo de no minimo 20 pés ( 7 metros) pelas leis internacionais por causa da radiação. Não sei se foi por isso, ou por me declarar candomblecista que o telefone parou de tocar………) Enfim, pelo menos a IIGD não parece cair matando nos cultos afros, prefere vender ‘titulos’ por R$300,00 para os fieis, que viram ‘sócios’ do emprendimento ‘internacional’. Chique.
Confesso que rolou uma inveja por minha parte: quando morava nos EUA ligava a tv e via babalaôs cubanos, sacerdotes haitianos, até nossos queridos babalorixás brazucas com programinhas de tv. E nós aqui representados pelo Pai Celso de Oxalá no ringue vale-tudo da Luciana.

Deuses ou Demônios

Ao chegar na Igreja Universal minha amiga disse que a pessoa tem de passar por uma espécie de "corredor polonês" feito pelos obreiros (assistentes do pastor), orando com as mãos estendidas na altura da cabeça da pessoa (como um passe), enquanto ela caminha pelo chão coberto de sal grosso. Olhaí a Igreja Universal de um bairro pobre trabalhando com o Princípio Hermético da Vibração e da Polaridade! No alto, uma dose cavalar de boas energias, forçando as energias mais densas a irem para o outro extremo, enquanto embaixo temos os chakras da sola dos pés (que trabalha com energias telúricas, mais densas) em contato direito com cristais que absorvem e desagregam essas energias!
Depois entregam um pouco de sal grosso para a pessoa levar pra casa e uma folhinha de arruda que serve pra tomar banho ou pra proteção. Bem conhecido dos cultos afro-brasileiros... perguntei a ela se na Igreja tinha muita gente vinda de outras religiões, e ela disse que tinha de tudo. O mais interessante é que nos depoimentos (testemunhos) vemos que tinha ex-macumbeiro, ex-satanista, ex-croque, ex-filha-de-santo, ex-espírita, mas que eles trazem para a Igreja todo o know-how de como combater as "forças do mal" justamente porque eles se defrontaram com coisas "pesadas" em suas experiências! Quando alguém diz que era umbandista e tomava banho com sangue de animais, a nossa tendência é achar que TODO umbandista faz isso, quando NÃO É! Eles estavam metidos com o "lado negro" da força, com o lado material, entrou nessa pra conseguir dinheiro, felicidade, sexo, orgulho ou alguma outra coisa. E sempre vai ter gente disposta a ensinar esse caminho, seja com o nome de umbanda, candomblé, espiritismo, catolicismo, etc. Esse é o Leitmotiv do ser humano quando em certa faixa de compreensão. Então, o que faz a Universal? Pega essas ovelhas extraviadas, oferece a elas a realização de seus desejos, DESDE que essa pessoa se volte para Jesus e para a sua Igreja. Altruísmo deles? Sabemos que não. Mas eles fazem algo para aliviá-los de seus fardos espirituais. E não cobram pelo sal, não cobram pela desobsessão, não cobram pela arruda, apenas criam, através de muita lábia e persuação, a necessidade de fazer a doação pra mostrar que tem "fé". E assim, gente que permaneceria esquecida e marginalizada pelas outras religiões se voltam VERDADEIRAMENTE para Jesus, por conta de uma interface que foi projetada para eles!
E não é só a Universal. Dezenas, talvez centenas de denominações surgem atrás desse filão. E engana-se quem pensa que apenas os pobres desesperados (infelizmente muitos associam pobreza à tolice) enveredam por estas igrejas: Basta dar uma olhada nos estacionamentos da Universal e conferir os modelos de carros. Muitos destes pertencentes a mulheres desquitadas, atrás de um novo marido. A doutrina de Jesus pode passar ao largo nesses casos, mas não deixa de ser um avanço.
Certa vez passei em frente a uma igreja de evangélicos e vi o pessoal "manifestado", aquela gritaria de "sai, demônio!" e várias obreiras segurando pela cabeça pessoas tontas ou histéricas. As assistentes falavam baixinho coisas no ouvido dessas pessoas, e também sopravam dentro do ouvido delas. É o mesmo procedimento que se usa no Catimbó para "controlar" um espírito manifestado num médium (só não sei o porquê). Essa mesma amiga do começo do post conta que estava na Universal com o neto dela (que tem 5 anos e vê gente desencarnada como se fosse a coisa mais normal do mundo) assistindo a uma desobsessão daquelas clássicas, do tipo "sai desse corpo que não te pertence!!" e nada do "demônio" sair da mulher. E o menino vendo a entidade perto dela. Após muita oração e invocação do Senhor, o Pastor, já suado, consegue exorcizar a mulher. Todos dão graças a Deus, felizes, mas o menino fala baixinho pra avó: "o demônio ficou lá na porta, esperando a mulher ir embora, mas não conta pro Pastor não senão ele vai ficar triste".

Só de curiosidade, alguem pode confirmar uma vez por todas a fofoca de que o pai de santo de Macedo mora na zona leste e é chamado de Zé de Oxossi?

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Umbanda praiana

Faz dez anos que, vira e mexe, desco a serra (engrenado) rodeado por umbandistas que aproveitam a descida pela anchieta para fazer oferendas nos riachos e encruzilhadas da serra. (Coisa que não acontece na imigrantes)

De acordo com Pai Jamil Rachid tudo começou quando só tinha mato ao redor da praia, e nem rua tinha. Era novembro de 1969, e o prefeito e o presidente do Conselho Municipal de Turismo de Praia Grande entraram em contato com várias federações sobre a possibilidade da realização do culto nas areias de Praia Grande, pois a cidade recém-emancipada oferecia 2 condições essenciais para as oferendas: muito espaço (23 km de areia), a aceitação e a colaboração das autoridades do povo. Assim nasceu a realização da 1ª festa, que contou com aproximadamente 15.000 participantes.

Dizem os organizadores que meio milhão de pessoas frequentaram a festa nos anos seguintes, e que na época da festa a cidade ficava sem água e sem comida. Mas no começo do novo milenio muita gente rodopiou até as igrejas pentecostais, rodando e rodando, até cair de volta nos braços da deusa do mar.

Para Graciana Miguel Fernandes, presidente da União Espírita Santista, "Umbanda é sectarismo do Catolicismo, pois os seus santos têm o nome diferente mas são os mesmos. Porém, é óbvio que existe uma mistificação no espiritismo, em todas as suas facções". Poliglotas convictos estão convidados a ler meu texto em Inglês sobre a umbanda. (http://www.fortunecity.com/skyscraper/parallax/1548/id64.htm)

Para os outros: A Umbanda nasceu em Niteroi, através do médium Zélio Fernandino de Moraes que trabalhava na federação espírita daquele estado. Era época de Kardecismo, e ele foi convidado a participar da Mesa Espírita. Ao serem iniciados os trabalhos, manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. Eram espíritos das religiões do nordeste, da encantaria, da pajelança. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). As madames presentes não queriam estes espíritos confraternizando com os espíritos de seus parentes milionarios, mortos.

As entidades do Zelio deram seus nomes como Caboclo das Sete encruzilhadas e Pai Antônio. No dia seguinte, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. Zélio foi o precursor de um "trabalho Umbandista Básico" (voltado à caridade assistencial, sem cobrança e sem fazer o mal e priorizando o bem. A kimbanda veio depois.....

Uma das coisas mais simpaticas da festa em Praia Grande é a confraternização de casas do estado inteiro. Veja aqui um post do pessoal de Bauru: Amanhã à noite, bauruenses vão seguir de caravana para Praia Grande (litoral de São Paulo) para a festa de Iemanjá, a rainha do mar, que será realizada naquela cidade no sábado à noite. Para homenagear a rainha do mar, os membros do terreiro vão levar muitas flores, perfumes e barco em miniatura, que serão lançados no oceano. A festa começa no sábado à noite e a caravana retorna a Bauru apenas no domingo. Outros terreiros de Bauru também estão organizando caravanas, que vão encontrar-se com pessoas de todo o Estado de São Paulo.

Recomendo para qualquer pessoa uma noite nos barzinhos em volta da praia, na melhor companhia, rodeado pelos umbandistas e seus altares decorativos.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006